Tempo Geológico

Tempo Geológico

A dimensão do tempo desde a formação da Terra até o presente é tão grande que se torna difícil à nossa percepção compreendê-la. O tempo de nossas vidas diante dessa escala não pode ser descrito senão como um suspiro. Mesmo a dimensão do tempo histórico, pela qual somos treinados a olhar para distâncias de milhares de anos, continua sendo desproporcional diante de processos que levam milhões de anos para ocorrer.

Uma maneira de começar a perceber a escala geológica é propor um exercício:
"Imagine que os 4,5 bilhões de anos da Terra foram comprimidos em um só ano (entre parênteses colocamos a idade real de cada evento). Nesta escala de tempo, as rochas mais antigas que se conhece (~3,6 bilhões de anos) teriam surgido apenas em março. Os primeiros seres vivos (~3,4 bilhões de anos) apareceram nos mares em maio. As plantas e os animais terrestres surgiram no final de novembro (a menos de 400 milhões de anos). Os dinossauros dominaram os continentes e os mares nos meados de dezembro, mas desapareceram no dia 26 (de 190 a 65 milhões de anos), mais ou menos a mesma época em que as montanhas rochosas começaram a se elevar. Os humanóides apareceram em algum momento da noite de 31 de dezembro (a aproximadamente 11 milhões de anos). Roma governou o mundo durante 5 segundos, das 23h:59m:45s até 23h:59:50s. Colombo descobriu a América (1492) 3 segundos antes da meia noite, e a geologia nasceu com as escritos de James Hutton (1795), Pai da Geologia Moderna, há pouco mais que 1 segundo antes do final desse movimentado ano dos anos." (extraído de Eicher, 1968)

Fica evidente que em um tempo tão grande como 4,5 bilhões de anos muitos eventos aconteceram. Mesmo as nossas maiores certezas do dia-a-dia como o chão onde pisamos já passaram por inúmeras transformações. Rochas, bem como espécies inteiras de animais surgiram e desapareceram de forma que, se tivéssemos o tempo de nossas vidas igual ao tempo da Terra, o processo nos pareceria bastante frenético.

A escala de tempo geológico nada mais é do que uma forma de dividir e classificar essa imensidão de eventos para melhor compreendê-los. Tomam-se os eventos geológicos e paleontológicos mais impactantes, aqueles capazes de deixar marcas na Terra, como pontos-chave para propor uma periodização.

A periodização do tempo geológico é um processo em construção. Está sujeito à novas pesquisas e tecnologias que permitam revelar mais sobre o passado de nosso planeta. Além disso, os pesquisadores devem entrar em algum consenso para definir quais períodos e eventos são significativos o suficiente para ganharem um nome próprio.

Atualmente esse consenso está expresso na Tabela Cronoestratigráfica Internacional, elaborada pela Comissão Internacional de Estratigrafia (ver imagem). Nela, o intervalo de tempo total da Terra, 4,5 bilhões de anos, está dividido em intervalos de tempo sucessivamente menores: Éons, Eras, Períodos, Épocas e Idades.

A história da Terra está dividida em 4 Éons: Hadeano, Arqueano, Proterozóico e Fanerozóico. Os três primeiros Éons correspondem à imensa maioria do tempo da Terra, aproximadamente seus 4 primeiros bilhões de anos. Todo esse tempo é comumente agrupado sob o termo Pré-Cambriano. Cambriano é o nome do primeiro Período do Éon Fanerozóico. A mudança que ocorre nesse tempo é extremamente importante pois corresponde à chamada "explosão" da vida na Terra. No Pré-Cambriano a vida já surgiu na Terra. Contudo, tratam-se de organismos muito simples, algas e bactérias unicelulares na maior parte. Mesmo sendo tão pequenos e simples, deixaram até nossos dias registros fósseis de sua passagem pela Terra. São os chamados estromatólitos.

No Fanerozóico a vida ganha sua amplitude de formas que caracterizarão a história da Terra e da qual somos parte. Esse Éon está dividido em três Eras, e seus nomes fazem menção justamente à "explosão" de vida na Terra. Tratam-se das Eras Paleozóica (vida antiga), Mesozóica (vida do meio) e Cenozóica (vida nova).

A Era Paleozóica assiste a multiplicação das formas de vida, com os oceanos tomados principalmente por invertebrados. Essa Era assiste também, em contrapartida, à primeira extinção em massa. Essa extinção ocorre no Período Permiano e estima-se que tenha levado 95% dos seres vivos. Está situado também na Era Paleozóica outro evento cuja importância se dá até hoje, em relação direta com a nossa economia. Nesse tempo ocorreu a formação das jazidas de carvão a partir do soterramento de florestas.

Após a Extinção Permiana, a Era Mesozóica assiste à ascensão, ao apogeu e ao trágico fim da fauna dominada pelos grandes répteis. Os dinossauros começam a surgir no Período Triássico, se desenvolvem no Jurássico, e no Cretáceo encontram seu apogeu, até serem extintos pela queda de um meteorito na Terra, segundo a teoria mais aceita. Para o Brasil, em particular, a Era Mesozóica corresponde a um importante evento. Nas terras em que hoje estamos, havia um clima desértico que gerou deposição de areias que viriam a formar rochas de arenito. São essas rochas, graças à sua porosidade, cruciais para a formação de nosso Aquífero Guarani.

Na Era Cenozóica, nossa presente Era, ocorre a dominância dos mamíferos. Nesse ramo dos mamíferos surgem os hominídeos, entre eles os que perduram até hoje, os Homo sapiens, nossa espécie. Além disso, data do Cenozóico a feição dos continentes e oceanos tais como hoje conhecemos. Surgem as grandes cadeias montanhosas, tais como os Andes, os Alpes e o Himalaia. Somente na subdivisão de Período mais recente, o Quaternário, o relevo é esculpido da forma que o conhecemos hoje. Isso pela ação das águas, do vento e do gelo.

Como se vê, mesmo as mudanças mais impactantes que conseguimos observar em nosso tempo histórico, seja de ordem física, como nos terremotos, ou humana, como nas alterações demográficas, são apenas frases de um capítulo de um livro muito longo que conta toda a história da Terra. Esse é o conhecimento produzido pela ciência, que pode, ou não, ser compatibilizado com matérias de fé, ao critério daquele que estuda. Seja como for, a escala de tempo geológico consiste em uma ferramenta essencial para aquele que decidir olhar para o mundo e pensar sobre suas transformações.



Fontes:




Discente: Tomás Volpi. 


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